O papel estratégico do Chair
Para que os Conselhos de Administração consigam navegar em tempos voláteis e desafiantes, é essencial contar com um Presidente que adote medidas estratégicas para garantir que o Conselho se mantém como um órgão eficaz de decisão, supervisão e criação de valor, impulsionando o crescimento sustentável da organização.
1. Clareza de papéis e responsabilidades
Esta é a base de um Conselho eficaz. Um bom Presidente compreende claramente o seu papel em apoiar o Conselho na criação de valor, promovendo a separação de responsabilidades entre si e o CEO.
Deve garantir que cada Administrador entende o seu contributo individual e coletivo, e que há uma fronteira clara entre as responsabilidades do Conselho e as da gestão executiva. Qualquer ambiguidade nesta distinção compromete a eficácia das decisões.
2. Relação sólida e construtiva com o CEO
A relação entre o Presidente e o CEO é a mais crítica no sistema de governance. O Presidente lidera o Conselho, o CEO lidera a operação. Para que essa relação seja de valor, deve assentar em confiança mútua, respeito, abertura e franqueza.
Um Presidente atento reflete continuamente sobre esta relação, ajustando-a sempre que necessário, de forma a garantir que permanece como um ativo estratégico para a organização.
3. Composição estratégica do Conselho
Cabe ao Presidente avaliar se a composição atual do Conselho é a mais adequada para enfrentar os desafios presentes e futuros. Isso implica analisar a diversidade em termos de género, etnia, competências técnicas, experiências profissionais, personalidade e redes de influência.
A diversidade bem estruturada proporciona perspetivas mais amplas e decisões mais robustas, sobretudo em temas críticos como sustentabilidade, tecnologia, inovação e transformação digital.
4. Agilidade e adaptabilidade do Conselho
Em contextos de elevada incerteza, o Presidente deve fomentar uma cultura de agilidade e adaptação contínua no Conselho.
O que funcionou durante a pandemia de COVID-19 pode já não ser eficaz no cenário atual. O Presidente deve garantir que o Conselho é capaz de ajustar o seu foco, processos e prioridades com rapidez e resiliência.
5. Foco na estratégia de longo prazo
Um Presidente eficaz centra o Conselho na visão de futuro: como a organização pode cumprir a sua missão num contexto volátil, explorando novas oportunidades, mitigando riscos e antecipando tensões, dificuldades e potenciais obstáculos. A estratégia deve estar no centro das discussões do Conselho, não deve ser tratada como um exercício anual, mas como uma responsabilidade contínua e integrada na agenda.
6. Questionar pressupostos
Muitas decisões são baseadas em pressupostos não validados, o que pode comprometer a organização. É responsabilidade do Presidente garantir que esses pressupostos são desafiados e testados, sobretudo no equilíbrio entre risco, retorno e propósito. Só assim o Conselho pode tomar decisões com base em informação robusta e pensamento crítico.
7. Inteligência emocional e segurança psicológica
Em ambientes complexos e muitas vezes virtuais, o estilo de liderança do Presidente deve evoluir do comando para a facilitação. É essencial criar um ambiente de segurança psicológica, onde as más notícias são partilhadas sem medo, onde os Administradores se sentem à vontade para fazer perguntas difíceis e onde é normal não ter todas as respostas. A empatia, escuta ativa e autoconsciência tornam-se competências críticas.
8. Utilização eficaz da tecnologia
Com a digitalização das reuniões e processos, o Presidente deve estar apto a utilizar ferramentas tecnológicas de forma eficaz, promovendo interações produtivas, inclusivas e seguras. A tecnologia deve ser uma aliada na eficiência e, nunca uma barreira à participação.
9. Avaliação do desempenho do Conselho e do CEO
Durante períodos de crise, algumas organizações suspenderam avaliações de desempenho. Cabe ao Presidente retomar e institucionalizar esse processo, assegurando revisões anuais estruturadas, com mecanismos de feedback e accountability.
Avaliações 360º do Conselho, CEO e do próprio Presidente contribuem para o desenvolvimento contínuo da liderança e para a preparação futura da organização.
10. Planeamento de sucessão
A continuidade da liderança é crítica. O Presidente deve liderar o planeamento de sucessão do CEO, de si próprio e dos Administradores.
Este processo deve incluir cenários de saída planeada (reformas) e imprevista (doença, desempenho insatisfatório em relação ao desempenho do cargo), sendo revisto anualmente para garantir que a organização está preparada para qualquer eventualidade.
11. Integração de novos Administradores
O onboarding de novos Administradores deve ser conduzido pelo Presidente de forma estruturada e prolongada, idealmente entre 18 e 24 meses, incluindo formação em governance, interação com stakeholders relevantes, visitas a operações e sistemas de mentoria. Confiar apenas na leitura de documentos compromete a eficácia da integração.
12. Compreensão do contexto externo
Um bom Presidente mantém-se informado sobre tendências geopolíticas, económicas, sociais e ambientais que afetam o setor e o mercado em que a organização opera.
Esta visão externa permite orientar o Conselho de forma mais estratégica e antecipatória, conectando a realidade da organização com o seu ecossistema alargado.
13. Independência e imparcialidade
Mais do que um papel formal, o Presidente deve ser visto como uma figura de autoridade moral, imparcial e respeitada. Deve evitar protagonismos, manter neutralidade nos debates e garantir que todas as vozes no Conselho são ouvidas com equidade. Um Chair eficaz influencia pelo exemplo e pela ética, não pelo poder.
Comportamentos-chave de um Chair eficaz
Estas são algumas das atitudes que reforçam o impacto positivo do Presidente:
- Orientar e aconselhar os Administradores, incentivando o desenvolvimento contínuo das suas competências;
- Priorizar a colaboração e o trabalho em equipa;
- Preparar cuidadosamente as agendas e materiais das reuniões;
- Valorizar o trabalho das comissões, onde ocorre grande parte da análise técnica do Conselho;
- Manter uma postura imparcial, mesmo em discussões polarizadas;
- Avaliar a eficácia do Conselho com base na qualidade dos inputs e processos, e não apenas nos outputs;
- Evitar ser visto ou atuar como "chefe" do CEO.
O Presidente não lidera a organização, lidera o Conselho. Deve atuar como facilitador de discussões estratégicas, encorajar diversidade de pensamento, promover accountability e garantir que o Conselho permanece como um ativo essencial de decisão e supervisão, mesmo em tempos de incerteza.