A Importância da Diversidade nos Conselhos de Administração
O tema da diversidade nos Conselhos de Administração é cada vez mais debatido dada a preocupação em assegurar a igualdade de género no mundo corporativo e, por consequência, a pressão política e social no escrutínio da diversidade dos Conselhos de Administração é cada vez mais acentuada.
O que se pretende na prática é perceber se um grupo heterogéneo é capaz de executar as decisões estratégicas e táticas adequadas ao futuro sustentável da empresa. Neste artigo, exploramos os benefícios, desafios e, a importância de garantir a diversidade no Board.
O Papel do Conselho de Administração
O Conselho de Administração (CA) tem a responsabilidade de liderar e supervisionar a empresa, garantindo a proteção dos interesses de todos os stakeholders envolvidos. Uma das suas funções centrais é alinhar os interesses dos administradores executivos com os dos Acionistas. Segundo a OECD, os principais contributos do CA incluem: Definir e orientar a estratégia da empresa, incluindo planos de negócios, orçamentos e políticas de risco. Supervisionar a governança corporativa e implementar melhorias quando necessário. Assegurar que a remuneração dos administradores está alinhada com os objetivos de longo prazo da empresa. Recrutar, monitorizar e, se necessário, substituir os administradores executivos. Garantir um processo transparente de nomeação e eleição dos membros do conselho. Assegurar a integridade dos sistemas financeiros e de auditoria da empresa. Gerir potenciais conflitos de interesses entre a equipa de gestão e o CA Monitorizar a divulgação de informações e a comunicação com o mercado. A ambição por uma governação empresarial mais eficaz é um dos fatores determinantes na matéria de assegurar a diversidade nos Conselhos de Administração.
O Que Significa Diversidade no CA?
A diversidade nos Conselhos de Administração pode ser classificada em dois tipos principais:
- Diversidade observável: Refere-se a características visíveis, como género, idade, raça, etnia e nacionalidade.
- Diversidade não observável: Inclui elementos como a formação académica, experiência profissional, competências técnicas, analíticas e sociais.
A composição tradicional dos Conselhos de Administração tem sido dominada por indivíduos com experiência sólida e formação académica, geralmente em idades intermédias. No entanto, essa tendência está a mudar gradualmente e existe um esforço crescente para promover a diversidade etária e de género, no sentido de estimular diferentes perspetivas de negócio entre as faixas etárias.
A inclusão de diferentes faixas etárias traz inúmeras vantagens. Se por um lado membros seniores, que ocupam posições de liderança onde impera tomadas de decisão estratégica, trazem a sua sabedoria, experiência profissional e, geralmente mais recursos financeiros, os profissionais mais novos conseguem acrescentar a sua energia, dinamismo, inovação e ambição.
A diversidade cultural também é um fator relevante. Enquanto os administradores internos (insiders) têm maior conhecimento sobre os projetos e operações da empresa, os administradores externos (outsiders) contribuem com perspetivas diferentes e experiências internacionais, promovendo decisões mais informadas e equilibradas.
A independência dentro do CA é outro fator chave para garantir objetividade nas decisões, sendo possível através da participação maioritária ou exclusiva de administradores independentes em comissões específicas e, com a separação da figura do presidente do CA e da comissão executiva.
O Código de Governo das Sociedades do IPCG recomenda que o número de administradores não executivos seja sempre superior ao de administradores executivos, reforçando assim a imparcialidade e proteção dos interesses dos Acionistas.
Uma das principais causas de ineficiência do CA relaciona-se, precisamente, com o cumprimento da função de supervisão, uma vez que, não existe uma relação de proporcionalidade entre os administradores executivos e os não executivos, subsistindo uma escassa representatividade dos independentes. É dentro deste contexto que o Código de Governo das Sociedades do IPCG aconselha que o número de administradores não executivos seja superior ao de administradores executivos.
Desta forma, existe a convicção de que os administradores independentes melhoram a objetividade das atuações no seio do CA, garantindo a proteção dos interesses dos Acionistas e dos administradores. O modelo de separação de funções promove um equilíbrio saudável com a governação empresarial global de uma organização.
Vantagens e Desafios de um Conselho de Administração Diversificado
Os principais benefícios da diversidade incluem:
- Maior variedade de opiniões, reduzindo o risco de "pensamento de grupo".
- Menos conflitos de interesses.
- Melhor qualidade dos debates, com diferentes perspetivas a enriquecer as decisões.
Numa sala onde imperam diferentes perspetivas, a tomada de decisão tende a ser mais informada e equilibrada, considera-se diferentes riscos e oportunidades. Com ideias diferentes potencia-se a criatividade e inovação, enriquecendo desta forma os debates no Board.
No entanto, também existem desafios, tais como, a dificuldade de coordenação entre membros com perfis diversos, níveis de confiança intragrupo mais baixos e, processos de comunicação mais lentos e confusos.
Segundo o IPCG, as empresas devem definir critérios claros para a seleção de novos membros do CA, considerando não apenas atributos individuais como o conjunto de competências, integridade e experiência, mas também a diversidade em termos de género, formação académica, experiência profissional e background sociocultural. Para além de mais inovação e criatividade, um Conselho de Administração diversificado e inclusivo fomenta decisões mais informadas, equilibradas e melhor reputação, tornando-se mais atrativo enquanto empregador.
Um Board diversificado integra perfis orientados para a inovação, predispostos a assumir riscos, mas também perfis analíticos e orientados para os resultados, que aprofundam mais as análises e ajudam a tomar decisões atendendo a diversas variáveis, ponderam cuidadosamente o custo/benefício e, perfis empáticos e sociais.
Podemos concluir que a diversidade no Conselho de Administração não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente que contribui para o sucesso e sustentabilidade das organizações.
Referências bibliográficas:
Tesis Doctoral
- H. M. S. de. Oliveira
- A estrutura conceptual da informação financeira e o governo das sociedades: análise da relação entre as características das empresas cotadas em Portugal e a informação divulgada: 2015
Princípios de Governo das Sociedades do G20 e da OCDE
- OECD
- Princípios de Governo das Sociedades do G20 e da OCDE: OECD Publishing, Paris, 2016
Corporate Governance and Board Composition: diversity and independence of Australian boards
- H. Kang, M. Cheng, S. J. Gray
- Corporate Governance: An International Review, 15: 194-207, 2007
Determinants of board size and composition: A theory of corporate boards
- C. G. Raheja
- Journal of Financial and Quantitative Analysis, 40: 283-306, 2005
Determinants of the Size and Composition of US Corporate Boards: 1935-2000
- K. Lehn, S. Patro, M. Zhao
- Financial Management, 38: 747-780, 2009
Corporate boards in OECD countries: size, composition, functioning and effectiveness
- P. de Andres, V. Azofra, F. Lopez
- Corporate Governance-An International Review, 13: 197-210, 2005
The Modern Industrial Revolution, Exit, and the Failure of Internal Control Systems
- M. C. Jensen
- Journal of Finance, 48: 831-880, 1993
A Modest Proposal for Improved Corporate Governance
- M. Lipton, J. W. Lorsch
- Business Lawyer, 48: 59-77, 1992
Creación de valor y gobierno de la empresa (Gestión)
- S. E. Mayor
- Creación de valor y gobierno de la empresa (Gestión): 1999
Código de Governo das Sociedades
- IPCG
- Código de Governo das Sociedades: 2018
CEO Duality - An Explorative Study
- A. Palanissamy
- European Scientific Journal, 11: 33-44, 2015
The Gender and Ethnic Diversity of US Boards and Board Committees and Firm
Financial Performance
- D. A. Carter, F. D’Souza, B. J. Simkins, W. G. Simpson
- Corporate Governance: An International Review, 18: 396-414, 2010
Corporate Governance Mechanisms and Systems
- S. Thomsen, M. J. Conyon
- Corporate Governance Mechanisms and Systems: 2012
The Economics of Director Heterogeneity
- R. C. Anderson, D. M. Reeb, A. Upadhyay, W. Zhao
- Financial Management, 40: 5-38, 201