8 Características que tornam um Board eficaz

Embora a Governance seja um esforço coletivo, o papel do Presidente do Conselho de Administração (PCA) é determinante na forma como o Conselho cumpre eficazmente o seu mandato. O Presidente influencia não apenas o que é discutido e quando, mas também a qualidade do debate, a forma como as divergências são geridas e a rapidez com que o Conselho toma decisões relevantes. Mesmo num Conselho bem estruturado, a diferença entre uma supervisão meramente formal e uma contribuição estratégica significativa reside, muitas vezes, na qualidade da liderança do seu Presidente.

Num contexto empresarial marcado por riscos complexos, expectativas em constante mutação e uma crescente pressão por resultados, os Conselhos enfrentam exigências mais elevadas e são mais responsabilizados. Um Presidente competente permite ao Conselho estar à altura desse desafio, promovendo uma cultura de rigor, colaboração e confiança. Ao definir o tom certo, priorizar os temas mais relevantes e assegurar processos eficazes, o Presidente liberta o potencial do Conselho para gerar valor estratégico e apoiar o CEO e a organização.

Dada a importância deste papel, é fundamental compreender quais os traços e competências que distinguem os melhores líderes de Conselho.

1.    Definir a agenda estratégica para decisões eficazes

A agenda de uma reunião é o verdadeiro plano de ação de um Conselho. Ela determina o foco, o ritmo e o impacto das suas deliberações. Um bom Presidente constrói a agenda de forma intencional, garantindo que o tempo e a energia do Conselho se concentram onde podem acrescentar mais valor.

Habitualmente, o Presidente colabora com o CEO, o Secretário-geral e outros membros da Administração para preparar a agenda. Questões formais, como relatórios de comissões e atualizações regulatórias são inevitáveis, mas cabe ao Presidente assegurar que o peso da agenda recai sobre os temas estratégicos: alterações de mercado, decisões de alocação de capital ou inflexões no percurso da empresa.

A preparação conjunta da agenda é também uma oportunidade para o Presidente e o CEO alinharem prioridades e avaliarem se os Administradores estão devidamente informados e preparados para discutir cada tema. Uma boa agenda é o ponto de partida para um Conselho produtivo e estrategicamente relevante.

2.   Ser um facilitador diplomático e decisivo

Os melhores Presidentes são facilitadores atentos e diplomáticos. Sabem dar voz aos mais reservados, conter com elegância os mais dominantes e manter o equilíbrio nas discussões. Quando surgem tensões, demonstram calma, curiosidade e inteligência emocional para gerir divergências e conflitos.

Um bom Presidente escuta, respeita diferentes perspetivas e procura, quando necessário, resolver fricções fora da sala. Quando as divergências impedem o avanço, sabe envolver o Conselho em perguntas mobilizadoras: “Como podemos aproximar posições?” ou “Que alternativas ainda não considerámos?”.

Mas também reconhece o momento de decidir. A experiência ajuda a discernir quando é tempo de continuar a explorar e quando é tempo de fechar. A arte está em garantir debates profundos sem os tornar paralisantes, conduzindo o Conselho a decisões atempadas e informadas.

3.  Ser um parceiro colaborativo do CEO

A relação entre o Presidente e o CEO é um dos eixos centrais da eficácia de qualquer Conselho. É uma relação que exige confiança mútua, franqueza e respeito. Quando essa relação é sólida, o Presidente torna-se um interlocutor de confiança, capaz de ajudar o CEO a ver os temas de forma mais ampla e a antecipar como o Conselho poderá reagir.

O Presidente deve também assegurar a responsabilização do CEO, conduzindo de forma estruturada e justa o processo anual de avaliação de desempenho. Envolver um avaliador independente, recolher contributos de todos os administradores e dos reportes diretos do CEO e transformar essa informação em recomendações úteis são boas práticas que reforçam tanto a relação como a accountability.

4.  Moldar a cultura do Conselho

A cultura de um Conselho não surge por acaso, constrói-se. E ninguém tem mais influência sobre essa cultura do que o
Presidente. O seu exemplo em preparação, ética, escuta ativa e respeito pelas divergências define o padrão de comportamento de todos.

Decisões aparentemente de uma importância menores como o tempo dedicado a temas estratégicos, a forma de lidar com o desacordo ou o modo como são planeadas as reuniões moldam o ambiente coletivo. Presidentes que incentivam momentos informais de convivência (pausas, refeições partilhadas) criam laços de confiança que tornam o Conselho mais coeso e aberto à discussão genuína.

A cultura é também reforçada pela composição do próprio Conselho. Em articulação com o Comité de Nomeações, o Presidente pode garantir que os novos membros trazem não só competências técnicas, mas também valores e comportamentos alinhados. Uma cultura de Conselho forte e saudável é uma vantagem competitiva.

5.   Liderar com serenidade em tempos de crise

Num mundo volátil, crises são inevitáveis, a saída repentina de um CEO, um escândalo reputacional ou um evento externo que ameaça a continuidade do negócio. Nesses momentos, a postura do Presidente é determinante. Um líder experiente, sereno e perspicaz transmite confiança, assegura que o Conselho reage com rapidez e prudência, e oferece estabilidade à equipa executiva e aos stakeholders.

Um bom Presidente não se limita a reagir. Incorpora a preparação para crises na agenda anual, promovendo exercícios de cenarização e garantindo que existem planos de resposta claros antes de serem necessários.

6.  Valorizar e mobilizar o conhecimento institucional

Um Presidente eficaz compreende profundamente a organização e o seu setor. Normalmente, é alguém que já passou tempo suficiente no Conselho para dominar o contexto e as dinâmicas internas, podendo assim enriquecer a análise estratégica e a gestão de risco.

Quando o Presidente é relativamente novo no cargo, deve investir tempo em conhecer a fundo a empresa, o mercado e os interlocutores-chave, cultivando relações sólidas com administradores e com a equipa executiva. Essa rede de confiança é essencial para liderar o Conselho com autoridade e sensibilidade.

7.  Compromisso e disponibilidade

Nenhum Presidente, por mais talentoso que seja, terá sucesso sem dedicar o tempo necessário ao cargo. A intensidade do compromisso varia conforme a dimensão e o momento da organização, mas é comum que o Presidente mantenha contacto regular com o CEO e seja consultado sobre temas relevantes com frequência.

Durante períodos de transição estratégica, sucessão de liderança ou crise, o cargo pode tornar-se especialmente exigente. Exercer simultaneamente funções executivas pesadas ou outras responsabilidades incompatíveis pode comprometer a eficácia. O papel requer flexibilidade,
atenção constante e verdadeira dedicação à missão da organização.

8. Paixão pela missão e visão sistémica

Por fim, os melhores Presidentes partilham duas qualidades transversais. Primeiro, uma paixão genuína pela missão da organização. Quem aceita este papel sem acreditar profundamente no impacto da instituição acabará por se desalinhar e, o Conselho ressentir-se-á disso.

Segundo, a capacidade de pensar em sistemas e ver "the bigger picture" de forma estratégica. O Conselho é a instância responsável por definir que resultados devem ser alcançados, para quem, e por proteger a organização contra ações imprudentes. Essa função exige uma visão holística, pensamento crítico e capacidade de conectar informação dispersa para antecipar implicações e proteger o propósito organizacional.